O meu PV544 - 1961 Sport B16

O primeiro dia...


Esta "coisa" dos clássicos tem muito que se lhe diga. É um vício: depois de começar, queremos sempre mais e mais carros. Às vezes digo, meio a brincar, que me vou increver num grupo de terapia para me "curar" do vício.

Este PV544 veio parar à minha posse por acaso. Estava a ver um P1800 branco para um amigo interessado em comprá-lo. Tinhamos ficado amigos, porque ele, um fã de Volvos e carros suecos (também gosta de Saabs) andou algum tempo a rondar o meu carro e a tentar descobrir de quem seria. Entretanto, apareceu um P1800 para venda, que estava na Auto-Sueco, no Porto, guardado no piso de baixo. É nesse local que ficam os carros especiais, de alguns coleccionadores e membros do CPVV (Club Português de Veteranos Volvo), incluíndo a colecção dos donos da Auto-Sueco, como o famoso P1900 #6.

Depois de ver o estado do P1800S branco de 1965, fui dar uma vista de olhos nos outros carros. Só por brincadeira, estava com o meu primo (que tem o P1800 Jensen de 1961), a escolher quais os carros que gostariamos de ter dos que estavam ali estacionados. Sempre tive um gosto especial pelos carros da série 164, especialmente os últimos modelos, de injecção. Estava a olhar para um azul metalizado 164E, com um PV544 abandonado ao lado. Nunca tinha sido um fã de PVs embora tivesse lido algures que são carros muito confortáveis, resistentes e fáceis de manter. O meu primo perguntou-me se eu gostaria daquele PV. "Claro," disse-lhe, "mas esse carro deverá ser muito caro", retorqui. Ele insistiu, provavelmente suspeitando que estaria para venda.

Alguns dias depois o meu primo ligou-me dizendo que o único carro à venda era o PV544 Sport. Não estava com ideias de comprar fosse o que fosse, mas aceitei ir vê-lo outra vez.

Entretanto, o meu amigo decidiu comprar o seu P1800S branco. E eu comecei a sonhar com o PV544...

Para começar, comprei o kit da Revell escala 1:18. Lindo! Comecei a gostar das linhas do PV544 E cada vez mais não conseguia pensar noutra coisa. Entretanto o meu primo dizia-me que, como tenho dois filhos, seria interessante ter um Volvo para cada um. Pedimos para dar uma volta no carro. Estava parado há um ou dois anos. Foi preparado pelos mecânicos da Volvo.

Mais tarde, fui outra vez à procura do carro; continuava no mesmo sítio, cheio de pó e com mau aspecto. Contudo, um olhar mais atento revelou que o interior estava em muito bom estado, provavelmente restaurado há pouco tempo. Só faltava o aro do volante (buzina). Por baixo do pó encontrei uma pintura impecável.

Falei com amigos, alguns por e-mail como o Derek Scott (que já teve um carro destes) que me deram alguns conselhos úteis. Tinha de tomar uma decisão. E ao fim e algumas noites mal dormidas, decidi ir para a frente.

O carro lá foi preparado. A pintura estava muito melhor do que aparentava. Depois de lavado, parecia um outro carro. Notava-se que afinal, teria sido alvo de um restauro completo há pouco tempo. Mas o problema da buzina não foi resolvido; e a bateria de 6 volts estava em mau estado.

De qualquer das formas, acabei por deixar a paixão sobrepôr-se à razão e acabei por considerar comprar o carro. Ainda tenho o P1800 que não espero trocar nem vender. Pelo menos enquanto assim o conseguir. A tentação de possuir este Volvo de linhas suaves e arredondadas começou a ser forte demais. Cheguei a levar os meus filhos a ver o carro, para estudar a reacção deles. Claro que não lhes disse que estava a pensar em comprá-lo, mas adorei o entusiamo deles quando viram o carro.Vejam como os olhos brilham!

Todas as minha dúvidas desapareceram naquele momento. Ainda nem sequer tinha visto o motor a trabalhar ou sequer verificado outros pontos, mas decidi que aquele carro iria ser meu. E lá arranjei a justificação: um dos meus filhos ficaria com o P1800 e o outro com o PV544.

Disseram-me que o carro ficaria pronto na semana seguinte. Mesmo a tempo da Páscoa. Como o 10º aniversário do meu filho mais velho, Gonçalo, era no dia 28 de Março, mesmo antes da Páscoa, achei que seria um presente de aniversário inesquecível. Uau! Não admira que diga que sou o melhor pai do mundo!

Quando acordou, no dia 28 de Março de 2002, tinha um pequeno PV544 embrulhado aos pés da cama.

Quase adivinhou o que se iria passar naquele dia mais tarde!

Tinha prometido levá-lo ao cinema, com uns colegas. E assim foi. Mas ainda não sabia se iria ter o carro pronto a tempo. Além do mais, faltava a bateria. Liguei ao meu electricista de carros antigos (e não só) sr. Valentim, que me arranjou uma bateria de 6 volts e  160 AmpH. Mas ainda era preciso ir buscá-la e levar ao Porto, para que a instalassem no carro, e esperar que este funcionasse bem. Como era quinta-feira santa, véspera de Páscoa, o trânsito caótico e o tempo escasso, parecia impossível conseguir. Mas tentei e consegui chegar à Auto-Sueco mesmo antes de fecharem. Quando os questionei como iria levar o carro, sem bateria, disseram-me para usar os cabos e ligar com um carro . De 12V, perguntei? Sim, não há probema, disseram-me. Nem quis ouvir mais. Convenci o responsável a chamar um mecânico (de piquete) que lá instalou com dificuldade a bateria.

E lá partimos! Com 4 miúdos num carro velho de mais de 40 anos, sem nunca o ter guiado, um trânsito terrível e de noite, uma aventura impensável. A meio da ponte da Arrábida, começou o motor a falhar. E pouco depois parou de vez. Liguei ao meu primo, para me ajudar. Tinha a minha mulher à espera, sem saber o que se passava, e com os miúdos comigo. Se ela soubesse, chamar-me-ia maluco. E com razão. Sou mesmo.

A falha poderia ser de muitas coisas, mas desconfiamos que seria falta de gasolina. Nem queria pensar que me tinham dadio um carro sem gasolina nenhuma. Parece impossível, mas não foi. Nem 5 km consegui andar. Mas lá fomos comprar 5 litros e pouco tempo depois já funcionava outra vez. Fiquei feliz pela minha intuição, por ter conseguido uma bateria de 6 volts às 18.30 e pela minha sorte. Poderia ter dado para o torto e estragado a festa de aniversário.

Mais tarde, depois do jantar, tivemos uma pequena festa de aniversário, para o Gonçalo, embora as visitas à garagem tenham sido o tópico mais memorável da noite, para ver o novo habitante.

Ainda bem que tenho lugar para  quatro carros! Agora a minha garagem parece quase uma oficina de Volvos clássicos. Ainda bem que não há espaço livre, senão quem sabe!

Família Feliz!

 

 

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